Crítica de Rodrigo de Oliveira no Gazeta Online.
[...]"Café com Leite" dialoga com tradições narrativas e com dramas reconhecíveis e largamente tratados no cinema para nos dizer que, por fim, se há algo que relaciona as histórias de pessoas tão diferentes entre si (e o caso aqui é de um casal homossexual que se depara com a contingência de se transformar ou não em uma família) é exatamente a possibilidade de se enxergar estas tradições uma experiência comum, e mais universal que certa carga de preconceito ou desconhecimento possa fazer parecer.
Café com Leite é o "filme gay" que vêm para mostrar como essa categoria é falível e francamente equivocada (e não deixa de ser curioso que o filme tenha sido tão bem acolhido pelo circuito de festivais de temática homossexual que propagam exatamente a idéia contra a qual o curta se coloca). Tudo porque o que se coloca como mais impressionante e engajador no trabalho de Daniel Ribeiro é exatamente esse direito de ser clássico. Num festival que trouxe filmes em que a condição homossexual dos personagens era sempre motivo para demarcar diferenças abissais de comportamento, ambiente, e sobretudo de emoções (como se obrigatoriamente houvesse uma ?diferença? no sentimento dessas pessoas com o mundo), o que "Café com Leite" faz, numa revolução quieta e reveladora, é exigir seu espaço dentro dos dramas familiares e afetivos pela via da familiaridade, e não pela distinção. O jovem casal gay faz planos de casamento, trocam carinhos, tem um repertório de afetos que invade a tela com uma força incomum, e são obrigados a lidar com os as tragédias e transformações que se impõem em sua vida. O caminho é atravessado por uma fatalidade, e o surgimento em cena de uma terceira pessoa, um menino que é agora órfão e só tem o irmão mais velho e seu namorado como referências familiares torna tudo ainda mais próximo daquilo que conhecemos dos melhores melodramas. Entre choros, dores, estranhamentos e conciliações, "Café com Leite" faz mais do que criar um universo em que a homossexualidade possa existir de maneira plena e sem freios. Sua qualidade mais encantadora é justamente a de insistir em encontrar espaço neste universo nosso, existente e reconhecível, para histórias que dividem os mesmos humores e as mesmas emoções.
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Um comentário:
Moro no interior de Minas Gerais e tenho pouquissimo acesso a cinemas ou festivais de curta-metragem e longas tambem! achei para fazer um download, assisti gostei muito. me fez recordar o Festival Mix Brasil de Brasili-DF, pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). GOSTARIA DE TER MAIS CONTATO COM ESTE ESTILO DE "FILME".
ELIAS DE MELO
THEOMUSICO@YAHOO.COM.BR
(O MESMO ME ACHA NO ORKUT)
VALEU E PARABÉNS. MELHOR NAO PODIA FICAR!!!
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